MOSAICOS DE UMA VIDA

Juntando cada peça forma-se o mosaico de minha vida. Tantos sentimentos me envolvem. Sentimentos ruins, outros bons. Saudade de quem se foi para eternidade. Saudade de quem posso ligar para ouvir a voz. Tristeza pelas metas não cumpridas e alegria pelos objetivos alcançados. Gemidos de dor, outros de prazer.

24 de ago. de 2007

Gênero e Escolha Profissional (*)

O avanço tecnológico/cientifico e as transformações nas relações de gênero possibilitaram a entrada das mulheres ao mercado de trabalho e ao ensino superior. Apesar disso as carreiras científicas/tecnológicas não são prioridades na escolha do curso universitário das mesmas. Continuam a escolher as profissões consideradas femininas.

Acredito que uma das determinações desse processo são as próprias relações de gênero, com seus desdobramentos na divisão sexual do trabalho reproduzida tanto no âmbito doméstico-familiar, quanto na escola, onde se realiza grande parte do processo de socialização.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO (2002) o quantitativo de mulheres que entram nas universidades é superior ao dos homens, mas a realidade é invertida quando são analisados os dados de pós-graduação e inserção no mercado de trabalho. Segundo Mariana Galisa (2005) dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq revelam que há uma tendência dos cursos nas áreas de Ciências Humanas, Ciências Sociais e Ciências Sociais Aplicadas, Lingüística, Letras e Artes, atraírem mais mulheres do que homens. Já nas áreas de exatas a diferença no número de bolsistas chega a ser quase o dobro (um pouco mais de oito mil mulheres contra quinze mil homens).

Diante desses dados, a indagação numa pesquisa de caráter exploratório foi saber quais são os fatores que influenciam homens e mulheres na sua escolha profissional. Para isso foi feito um levantamento com universitários/as; os quais foram sondados a respeito do que motivou a escolha do curso, se foi à primeira escolha, se estavam satisfeitos com o curso escolhido, bem como se sentiram ou não dificuldades no momento de decidir pela carreira profissional.

Há uma infinidade de literatura que trata sobre o conceito de gênero, bem como suas manifestações nas sociedades contemporâneas. Gênero deve ser compreendido como relação social que organiza a sociedade, cria e recria uma divisão sexual do trabalho, as relações entre homens e mulheres e entre si mesmo. Gênero se refere também a "identidade subjetiva" (DUQUE-ARRAZOLA Laura, 2004). Inicialmente um conceito rejeitado pelo mundo acadêmico, hoje já é uma categoria mais aceita pela academia como uma "categoria relacional de análise" (Joan Scott, 1991). Para as teorias de gênero, este é um conceito diferente de sexo.

De acordo com Cristina Buarque (2006), a interpretação dos conceitos de gênero surge em decorrência dos interesses que envolvem espaços acadêmicos, ONGs feministas e não-feministas, no âmbito da cooperação internacional e, até do aparelho de Estado.

No que se refere ao problema de pesquisa, ou seja, quais os fatores que influenciam a escolha profissional, pode-se observar uma tendência na qual predominam as mulheres a rejeição pelas profissões na área de Exatas; as disciplinas matemática, química e física foram rejeitadas por 33% das mulheres entrevistas, contra 11% de rejeição dos homens entrevistados.

Enquanto os homens preferem optar por cursos, com os quais têm maior afinidade, as mulheres rejeitarem os cursos nas áreas de exatas, preferindo as profissões estabelecidas pela sociedade como tipicamente femininas.

No que se refere à satisfação com o curso apenas duas mulheres e dois homens afirmaram que não estão satisfeitas/os com o mesmo. Ressalta-se que 83,3% das pessoas entrevistadas afirmaram que o curso em que estão não foi a sua primeira escolha. Ou seja, não estão cursando o que realmente almejavam antes de prestarem o vestibular. Das nove mulheres entrevistadas, apenas uma afirmou que o curso foi a sua primeira escolha e que está satisfeita com o mesmo. Em relação aos homens apenas dois fizerem essa mesma afirmação.

Entre as pessoas entrevistadas quatro mulheres e três homens revelaram ter sentindo dificuldades para escolher o curso. Um dos motivos revelado a respeito dessa dificuldade está atrelada a presença das ciências exatas (física, química e matemática) para realizar as provas eletivas do vestibular. Um outro aspecto significativo, resgatado pelo questionário aplicado, foi à escassez de informações sobre o curso que desejavam estudar.

Podemos considerar que o resultado da pesquisa revela um dos modos masculinos de ser: a tendência a uma maior auto-determinação; bem como a tendência construída do feminino, a insegurança das mulheres face a suas competências. Tendências de homens e de mulheres "aprendidas em seu processo diferenciado de socialização" (DUQUE-ARRAZOLA, Laura 2004). 

Dado o caráter exploratório da pesquisa, não é possível afirmar que haja apenas um fator determinante para escolha profissional. Essa escolha pode estar relacionada com outras variáveis, tais como: o meio e o momento em que se vive; as condições econômicas e sociais, além das relações de gênero condicionantes da socialização de homens e de mulheres e da sua formação identitária. Portanto, os dados sugerem a necessidade da realização de mais pesquisas para investigar a relação entre tais variáveis

(*) Fátima Barbosa - socióloga, especialista em psicopedagogia
 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
BUARQUE, Cristina. Introdução ao Feminismo. In: “Caderno de textos e trabalho”/Iole Macedo e Terezinha Gonçalves (organizadoras). – Salvador: REDOR, 2006 209 p.

DUQUE-ARRAZOLA, Laura. O Lugar das mulheres nas políticas de assistência social: um estudo sobre a experiência do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil em Pernambuco. Tese de doutorado em Serviço Social/CCSA/UFPE, Recife, 2004.

GALISA, Mariana. 2005 [On-line]. Mulheres na pesquisa: uma realidade. Disponível em: <http://memoria.cnpq.br/noticias/2005/080305.htm> Acesso em: 10 nov 2006.

SCOTT, Joan. Gênero, uma categoria útil para análise histórica. Recife: SOS- Corpo, 1991

UNESCO. 2002 [On-line]. A educação superior no Brasil. Disponível em: <http://www.iesalc.unesco.org.ve/programas/legislacion/nacionales/brasil/leg_br.pdf> Acesso em: 02 jul 2006.

4 de ago. de 2007

A Amazônia é nossa ! ?

O texto Zona de Exclusão (*), do economista Josué Mussalém, me fez questionar até que ponto as leis do país são postas em prática. O que podemos observar é que os interesses econômicos acabam sendo maximizados enquanto questões sociais e culturais são colocadas em segundo plano, e as leis são esquecidas e engavetadas.

Os Estados Unidos, alegando a necessidade de cuidar da floresta esquece que ficou de fora do Protocolo de Quioto, através do qual os países se comprometeram em diminuir a quantidade de gases poluentes que provocam o efeito estufa e consequentemente o aquecimento global. Enquanto o Brasil, integrante deste protocolo, “consente” o desmatamento da Amazônia e sua internacionalização. Tanto um país como outro está levando em consideração apenas o aspecto econômico. Porém, a própria Carta Magna cita em seu Art. 34 que cabe a União repelir invasão estrangeira em seu território.
O texto de Josué Mussalém é preocupante e nos deixa numa situação de impotência.
(*) publicado em 31/07/2007 - Jornal do Commércio -  http://jc3.uol.com.br/jornal/2007/07/31/not_242810.php